quinta-feira, 8 de abril de 2010

dopado no coração mercado
domingo 28/03/04

são os peixes das casas mortas, sem curvas e sem virgindade
eles não tem receitas para os comprimidos,
eles não tem doutores que curem nuvens

eu disse a Truffaut o que queria
e ele olhou como se tudo que pedi fosse pouco para um dia

não morro de nada
converso com os invisíveis e eles me agradam
são ternos e isósceles
escapam e pedem misérias
ficam na beirada e vazam
ouvem as paredes e dizem:
“tenho um quarto sem nada”
e digo:
“tenho desenhos no tornozelo”

passamos os muros e as extensões
existe o que se espalha na rua
as pessoas recebem os passes e os acordes
se assustam com a poesia em caixas de remédio

todos compram verduras, alho e rações
trocam flores por cartas feridas
ficam velhas, reumáticas e não lêem poesia

meu corpo se desola com Nick Drake
a manhã se torna desabitada
os gatos rejeitam os lençóis
e o tapete é o local do encontro perdido.

Demetrios Galvão

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