sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A Nau-Frágil Ancorou Na 10ª Poesia Tarja Preta


Para muitos Ana Cristina César é uma poeta desconhecida. Ela não é uma figura pop e nem tem uma escrita subornada. Seus poemas falam por ela, mesmo depois de deixar a vida em uma rasante tentando “ancorar um navio no espaço”.

A 10ª Poesia Tarja Preta resgatou a nau-frágil do fundo do céu turvo em uma correspondência trans-dimensional. A noite criada pra Ana foi composta por uma tapeçaria leve e densa, com imagens da casa subjetiva do artista plástico Tupy, as sonoridades de estranhos objetos em delay, com depoimentos sobre a poeta através do programa “Entrelinhas” e com o documentário “A Revolução dos Pirulitos”.

O terreiro do Orbital Canteiro de Obras tem produzido sua existência por associações e conexões entre artistas e amigos, bem como por artistas-amigos. A todo mês um intercâmbio de artes, um diálogo entre linguagens distintas que duram a noite toda, provocando os expectadores, instigando conversas, incitando encontros, sorrisos e tilintares de copos... o lançamento do documentário que tem o poeta Chiquinho Garra como seu personagem principal foi uma lição de como se pode adoçar a vida e a existência com ações simples. Parabéns ao Coletivo Diagonal – Aristides Oliveira e Meire Fernandes – pelo trabalho realizado. E agradecemos ao artista plástico Cícero Manoel e ao poeta Adriano Lobão, pelo material doado para sorteio que ocorreu no decorrer da noite – novas parcerias, mais pessoas conspirando junto com os Oníricos.

Já era noite adentro quando Ana Cristina César salta do seu apê e aterrissa no corpo de Emanuelle Chaves, linda apresentação. Ana aparecia entre o sorriso tímido e a voz firme de Manu quando dizia: “Ana foi a própria encarnação da modernidade. Soube ser feminina sem ser feminista, sem estar ideologicamente presa a nada. Talvez por isso, tenha morrido cedo, fazendo sobre nossa terra uma passagem permanente. O lugar que ocupa como poeta é na linha do horizonte - virtual e veloz.”

Os poemas recitados pelos Oníricos (Laís, Valadares, Kilito, Demetrios, Thiago) se enroscavam nas bases feitas por acordes de guitarras e os sons tirados de serrotes, martelo, pá de pedreiro, tampas, lixas, garrafas, “instrumentos” não convencionais que produziram uma semântica sem gramática. Nas texturas alinhavadas por palavras e sonoridades, os poetas seguiram Ana em uma viagem por seus andaimes, abismos, correspondências, varandas iluminadas e se perderam em seu corpo.

Havia uma invenção que desatava a noite, havia sorrisos e satisfações que reinventavam Ana, havia um conforto poético que produziu o recital para além das poesias, havia um feitiço, uma magia que desenhou a calmaria ----- A noite queimou silenciosa.

Demetrios Galvão

Emanuelle Chaves

Kilito Trindade

Valadares

Laís Romero + Thiago E.
Laís Romero

Thiago E.

Demetrios Galvão

Filipe Raiz


# todas as fotos por Kátia Barbosa #

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