sábado, 23 de abril de 2011

O sono é um relógio de sol ao meio-dia.
Soerguido, ensombra seu rosto de luz contra o gnômon.
Por isso, a ciência do sono é invasiva
Sabe verter seu veneno em doses mínimas
Ciência de peçonha e rastejo lento
-- Seus sinais de bocejo tremulam nos beiços.

O sono estende sua cabeça pênsil gravitando todo o corpo e deambulando.
Dir-se-ia: a ciência do sono é a evasão da vida
Um precipitar de distâncias noturnas
Ássanas e chacras abeirando o abismo

Assim é a ciência do sono:
Tatear cego os seios de uma mulher no escuro
Pentear suas madeixas a beira de um rio viscoso
Tanger de bois ao destino surdo
Rumores de chuva trovejosos

A ciência do sono ressoa em ânsias retendo a manhã
E o sono acena gestos ilegíveis em sua ceguez
retardar o dia é como pender lerdo os braços sobre os ombros

E assim o sono nos ensombra com seu livor e seu olhar písceo.
Olho de boi mastigando.
E assim o sono ressoa em estrídulo
No chamamento noturno do silvo de um guarda vígil.


Ranieri Ribas |colaborador|
poema do livro, ainda inédito, AOS RENOVOS DA ERVA

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