quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Talvez seja talvez...


Talvez que a vida seja
(Que a vida seja o que não se sabe...)
Para mim
Afiada adaga, rumorejante e sutil (inconsútil)
Escarlate como o sol a pino,
Trêmula como a carne,
A coser seu fio com a lâmina outra
Da língua amorfa dos anjos empedernidos...
Que a vida talvez seja
(Para mim a vida é talvez... Sempre talvez...)
Saliva dos aedos endoidecidos,
Gotas de sangue a verter de uma
Carta de amor
(Que talvez o amor das cartas seja crepuscular, meio sol, meio sombra, entre a vida e a morte, o corte e o suicídio)
Seja a vida talvez seja
O peso cavalar do destino
(Para mim é sempre desatino)
Batido entre ventos e tempestades...
O coice abissal da alimária sagrada...
E também o coito vespertino de abelhas
E vaga-lumes
(Que vida é lume, luminosa, angulosa, feito de pontas...)
Que seja o poço onde bebeu a Samaritana.
O livro perdido, fama e enredo,
Vocabulário de prata
Sede de absinto,
Rede de pesca entre a água e a areia...
Vida seja, talvez a vida seja
De tão sublime, virtuosa e degradante
Assomo de santidade
E diabólico texto de exorcismo ao demônio
Que nos reinventa...


Francisco Dênis Melo (colaborador - Sobral - CE)

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